A tensão agravou-se após a ofensiva do M23, que entre Janeiro e Fevereiro deste ano ocupou as cidades de Goma e Bukavu, provocando cerca de 7 mil mortes. Em Kinshasa, a hostilidade contra o Rwanda cresceu, resultando em protestos e ataques à embaixada rwandesa.
Autoridades congolesas e organizações internacionais acusam Kigali de utilizar a espionagem e a infiltração como ferramentas estratégicas. O actual ministro de Integração Regional do Rwanda, James Kabarebe, é apontado em relatórios da ONU e pelo Governo dos EUA como peça-chave no apoio militar ao M23 e na gestão de receitas provenientes da exploração ilegal de minerais na RDC.
Especialistas alertam que os sucessivos acordos de paz, que muitas vezes integraram ex-combatentes em posições no exército congolês, acabaram por facilitar a infiltração de elementos ligados ao Rwanda. Para Laurindo Tchinhama, professor de Relações Internacionais na Universidade Federal de Uberlândia, essa estratégia aumenta a vulnerabilidade congolesa.
Além das infiltrações, o problema das deserções também mina a confiança da população nas Forças Armadas da RDC. Relatos dão conta de militares que se renderam ao M23, alimentando acusações de traição e justificando a proliferação de grupos paramilitares conhecidos como Wazalendo (“patriotas”), que se recusam a lutar sob comando do exército oficial.
O mais recente acordo de paz, assinado em Junho deste ano com mediação dos EUA, prevê acções conjuntas entre Kinshasa e Kigali contra a Frente Democrática de Libertação do Rwanda (FDLR). No entanto, o receio de novas infiltrações mantém viva a desconfiança congolesa em relação ao vizinho.